Estrada de formiga

Ocultei a fascinação 
pela auto percepção 
da existência. 
Eu era fascinada, 
deslumbrada, 
seduzida por ela. 
Criança a cata de detalhes 
despercebidos pelo mundo maior, 
tão desinteressante. 
Eram descobertas grandiosas 
os vincos de uma pedra. 
Estrada de formiga. 
O mundo maior 
deu para gargalhar de mim 
criança. 
Levava-me a constatar 
que minhas preciosas descobertas 
eram antigas conhecidas e comuns 
pedras inertes, 
mortas, 
desconexas, 
soltas, 
pedras. 
Intimidador mundo maior.
Eles sabiam tanto mais sobre as pedras, 
as estradas 
e as formigas, 
que me senti envergonhada 
e tratei de aprender tudo quanto pude 
e quis 
sobre as pedras, 
as estradas 
e as formigas 
segundo o mundo maior. 
Lembro-me de uma sutil sensação 
de que tinham tudo planejado 
para algo ainda maior 
que o mundo maior. 
Envergonhei. 
Nas pedras, 
nas estradas 
e nas formigas 
eu deixei guardada, 
tão bem escondida, 
a fascinação 
pela auto percepção da existência.
Meu natural método para as minhas grandiosas descobertas era a contemplação. 
O mundo maior disse não. 
O mundo maior imperativo disse: apreenda. 
Envergonhei. 
Nas pedras, 
nas estradas 
e nas formigas 
eu deixei guardada, 
tão bem escondida, 
a contemplação.
O mundo maior cada vez mais frenético, 
intimida e impera: 
apreenda, apreenda, apreenda! 
Acho que frenética fiquei. 
Tanto que da sanidade nada saudável eu abdiquei. 
Procuro nas pedras, 
nas estradas 
e nas formigas 
a auto percepção da existência 
e a contemplação que deixei.

Comentários

  1. Ah, menina! Aquela criança ainda mora em você. Virou poeta resistente, mas o mundo maior não precisa saber.

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  2. Muito bom!!! Presente de natal antecipado.

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  3. Respostas
    1. Obrigada, Gui! Fiquei feliz de ver que passou aqui, leu e ainda mais que tenha gostado! Por favor, volte sempre aqui e fique muito à vontade!

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