Bode Expiatório



Eu disse não. 
Um não que custei parir, gerado na angústia em não ter tempo para tanto sim. 
Ocupada por tanto sim. 
Senti angústia por querer poupar no outro os nãos que digeri no passado. 
Foi um trabalho intenso, demandou tempo em gestar, silenciosamente, meu não. 
O poder da palavra não! 
Poder dizer não não era coisa que eu pudesse dizer. 
Antes. Eu não sabia. 
Eu cria que eu só poderia receber não. 
Não dar não. Não dá!
Não há vida para sempre sim. 
Há de se ter sim para o não. 
O sim verdadeiro não o seria sem o não verdadeiro. 
Sem o não verdadeiro, todo sim seria falso. Gestando um não, silêncio na angustiada gestação:
Mas e a frustração no outro da existência do meu não? 
Oras! 
Eu cresci tanto com os nãos. 
Aprendi a lidar tão bem com as minhas frustrações por conta dos nãos que ouvi! 
Pois não! Eu disse não. 
Por não ter tempo para tanto sim, por eu ser assim. 
Pari um não.
A frustração nascida do meu não, no outro, pariu um bode expiatório homônimo meu. 
Mas não sou eu. 

Dalila De Castro Realino

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