Meia dobrada

Estava dobrando as meias quando o ato disparou uma gatilho em minha memória. Parei. Parei com a meia dobrada no colo e voltei no tempo. 
Vi a gaveta de meias de meu primeiro namorado e como aquilo era novo para mim. Meias dobradas... Minhas meias não tinham pares, gostavam de escapar pela corrente da mina onde mamãe as lavava. Ficava um pé e o outro, sabe Deus... As que não escapavam, perdiam-se de seus pares na rouparia. 
Olhando aquela gaveta de meias dobradas eu vi um mundo novo, onde as meias não escapavam e tinham pares. No aconchego daquela família, aprendi a manter os pares juntos e a dobrar meias. 
Chorei porque senti luto e gratidão por aquele que me mostrou que meias tem pares. 
Sorri porque ainda uso pé de um, pé de outro, às vezes, por teimosia de gostar da mina de minha infância, e também porque meia dobrada dá uma inteira.

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